domingo, 23 de outubro de 2011

CONFISSÃO 5

Sou um mar aberto em minhas lembranças. Mesmo que eu queira, teu cheiro, teu toque, teu gosto não me saem do pensamento. Queria ter-te em meus braços com todo amor e desejo que possamos demonstrar em um suave laçar de mãos, em um leve tocar de lábios. Mas você está longe, onde meu pensamento não é capaz de te alcançar, onde você não pode sentir o desejo que emana de cada poro do meu ser. Onde não há espaço para mim em sua vida... 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CLARICE LISPECTOR - PARTE 3



Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real. ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. Parece com momentos que tive contigo, quando te amava, além dos quais não pude ir pois fui ao fundo dos momentos. É um estado de contato com a energia circundante e estremeço. Uma espécie de doida, doida harmonia. Sei que o meu olhar deve ser o de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom.

Fixo instantes súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem - fixo os instantes de metamorfose e é de terrível beleza a sua sequência e concomitância.

Agora está amanhecendo e a aurora é de neblina branca nas areias da praia. Tudo é meu, então. Mal toco em alimentos, não quero me despertar para além do despertar do dia. Vou crescendo com o dia que ao crescer me mata certa vaga esperança e me obriga a olhar cara a cara o duro sol. A ventania sopra e desarruma os meus papéis. Ouço esse vento de gritos, estertor de pássaro aberto em oblíquo vôo. E eu aqui me obrigo à severidade de uma linguagem tensa, obrigo-me à nudez de um esqueleto branco que está livre de humores. Mas o esqueleto é livre de vida e enquanto vivo me estremeço toda. Não conseguirei a nudez final. E ainda não a quero, ao que parece.

Esta é a vida vista pela vida. Posso não ter sentido mas é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa.

Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante, aprofundo as palavras como se pintasse, mais do que um objeto, a sua sombra. Não quero perguntar por quê, pode-se perguntar sempre por que e sempre continuar sem resposta: será que consigo me entregar ao expectante silêncio que se segue a uma pergunta sem resposta? Embora adivinhe que em algum lugar ou em algum tempo existe a grande resposta para mim.

E depois saberei como pintar e escrever, depois da estranha mas íntima resposta. Ouve-me, ouve o silêncio. O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão. Um instante me leva insensivelmente a outro e o tema atemático vai se desenrolando sem plano, mas geométrico como as figuras sucessivas em um caleidoscópio.

Entro lentamente na minha dádiva a mim mesma, esplendor dilacerado pelo cantar último que parece ser o primeiro. Entro lentamente na escritura assim como já entrei na pintura. É um mundo emaranhado de cipós, sílabas, madressilvas, cores e palavras - limiar de entrada de ancestral caverna que é o útero do mundo e dele vou nascer.

E se muitas vezes pinto grutas é que elas são o meu mergulho na terra, escuras mas nimbadas de claridade, e eu, sangue da natureza - grutas extravagantes e perigosas, talismã da Terra, onde se unem estalactites, fósseis e pedras, e onde os bichos que são doidos pela sua própria natureza maléfica procuram refúgio. As grutas são o meu inferno. Gruta sempre sonhadora com suas névoas, lembrança ou saudade? espantosa, espantosa, esotérica, esverdeada pelo limo do tempo. Dentro da caverna obscura tremeluzem pendurados os ratos com asas em forma de cruz dos morcegos. Vejo aranhas penugentas e negras. Ratos e ratazanas correm espantados pelo chão e pelas paredes. Entre as pedras o escorpião. Caranguejos, iguais a eles mesmos desde a pré-história, através de mortes e nascimentos, pareceriam bestas ameaçadores se fossem do tamanho de um homem. Baratas velhas se arrastam na penumbra. E tudo isso sou eu. Tudo é pesado de sonho quando pinto uma gruta ou te escrevo sobre ela - de fora dela vem o tropel de dezenas de cavalos soltos a patearem com cascos secos as trevas, e do atrito dos cascos o júbilo se libera em centelhas: eis-me, eu e a gruta, no tempo que nos apodrecerá.

Quero pôr em palavras, mas sem nenhuma descrição a existência da gruta que faz algum tempo pintei - e não sei como. Só repetindo o seu doce horror, caverna de terror e das maravilhas, lugar de almas aflitas, inverno e inferno, substrato imprevisível do mal que está dentro de uma terra que não é fértil.

(Água Viva, 1973)

sábado, 13 de agosto de 2011

Frío - Ricky Martin ft. Wisin & Yandel



Frío
Ricky Martin

Que bella eres
Me recuerda las olas y el mar
Yo nunca olvido
Como aquel día
Los dos empezamos a amar
Si pudiera pedir un deseo
Quisiera que no fuera así
Es la que nunca olvido
Tan especial para mí

Y te quiero confesar que…
Con un beso fue suficiente
Para enamorarme de ti
Mis promesas son las culpables
Si te enamoraste de mí

En lo más profundo
De mi corazón
Hay un vacío
Te pido perdón
Por qué andar solo?
Por qué vivir solo?
Si solo no existe el amor

Soy tímido lo sé
Debo decírtelo bien
Aunque no pudimos ser
Te amo yo
Me amas tú
Entiende que mi corazón
No puede más fingir
Y Tú me recuerdas el sol
En la mañana…

Como gotas de lluvia
Que el viento se llevó
Y tú me calientas cuando siento…
Frío

Siento miedo
Sin ti solo me quedo
Siento como si me diera en el pecho
Un torpedo
Trato de borrarte de mi mente
Y me enredo
Yo sé que tú eres mi religión
Y mi credo
Pero no se puede
Me siento débil
No tengo poderes
Eres la persona
Que me lleva a otros niveles
Veo tus fotos en las tardes
Y siento que llueve
Y como la nieve
Frío, frío, frío

domingo, 7 de agosto de 2011

CONFISSÃO 4

Sim, eu concordo com você nesse ponto. Vejo nossa relação como tendo prazo de validade. Pode acabar hoje, amanhã ou quem sabe daqui a algum tempo, mas vai acabar. Por isso eu tentei aproveitar com você o máximo de tempo possível, para que quando acabasse eu pudesse falar que aproveitei você ao máximo.

Se eu gosto de você? Sim, gosto... Sei que não deveria ter me apaixonado, sei que não poderia ter me dado a esse luxo, pois sabia que acabaria, mais cedo ou mais tarde… Não, não acho que seja amor, mas acho que estou perdidamente apaixonada por você...

Não, não pense que foi porque eu me entreguei a você... O sexo foi apenas uma consequência do que nós já vínhamos fazendo… Para ser sincera, aquele dia (você sabe qual) foi muito mais intenso do que o sexo em si, pois ali eu me dei muito mais... Eu me apaixonei pelo jeito carinhoso como você me trata. Eu permiti me apaixonar por você naquele dia que nós ficamos juntos, apenas abraçados... Sempre tive vontade de ficar daquele jeito e você realizou esse meu sonho (como tantos outros)…

Sinceridade? Sim, penso que pode rolar um namoro entre nós dois... Sei lá, parece que ao mesmo tempo em que nós temos muita coisa em comum parece que há um abismo… Mas é justamente esse abismo que nos torna perfeitos, pois eu ocupo o seu e você o meu. É muito simples e fácil ficar ao seu lado. Você me faz bem, como nunca estive com ninguém. Você me traz uma confiança que chega a gerar insanidade em mim.

Não… o que eu não gosto é quando a gente sai e você me trata como se eu tivesse uma doença e não pudesse se aproximar de mim. Você tem três momentos distintos: eu e você; nós e o grupo; nós, o grupo e muita gente. Não, eu sei que a gente não precisa expor a todos nossa “relação”, mas do jeito que você me trata faz com que eu me sinta muito mal… Nesses momentos penso que os momentos bons não compensam os ruins...

Cara, a questão não é ficar grudados ou não, é mínimo de respeito… Você é livre para fazer o que bem entender, mas tem coisas que não dão. Por exemplo? Você ficar comendo com os olhos outras mulheres bem quando eu estou na sua frente. Não exijo nada de você, pois não somos namorados, mas seria bom ter respeito... Regras de boa vizinhança...

Olha, para mim o essencial é a sinceridade... Não cobro isso, mas se quiser... A questão de traição é muito relativa. Acho pior a falta de verdade do que a traição física em si. Quer ficar com alguém? Pô, chega pra mim e fala... E preferível que eu saiba por você do que por terceiros... É horrível quando isso acontece... Não vou ficar com raiva caso você fique com alguém, mas me fala... A verdade dói, mas passa. Já a mentira dói e fica... Sabe aquela dorzinha chata? Pois é essa que a mentira gera...

É para terminar o lance? Massa, vamos terminar... Agradeço muito você por tudo que você me fez e me ensinou... Aprendi demais contigo… Mas vamos esquecer todos os momentos bads e lembrarmo-nos dos bons... Melhor guardar o que valeu a pena e deixar o resto de lado, o que você acha!? Podemos ser amigos!?




Mas hoje, acho que nem amigos conseguimos mais ser, depois de tudo... 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

MOMENTOS

Ele: Você está afim de mim!? [com cara de surpresa]

Ela: Não vou responder... [cruza os braços e emburra]

Ele: Por quê!? [com cara de surpresa]

Ela: Mesmo que eu esteja... Se eu responder que sim e você não estiver, eu ficarei me sentindo mal e a amizade pode acabar. Se eu responder que não e você estiver afim, então também me sentirei ruim porque perdi uma chance e a amizade também pode acabar. O que você tem que fazer é me beijar… Se eu estiver afim de você continuo. Se não, você saberá... Tente a sorte!

Ele, sorriso nos lábios. Ela, olhar baixo, como de vergonha.

Um beijo lindo se dá entre eles.

sábado, 14 de maio de 2011

IDENTIDADE - ZYGMUNT BAUMAN

"Amar significa estar determinado a compartilhar e fundir duas biografias, cada qual portando uma carga diferente de experiências e recordações, e cada qual seguindo o seu próprio rumo." Benedetto Vecchi

O livro vale a pena...

sábado, 7 de maio de 2011

APAIXONANTES...

A caixa de fotografias exalava um cheiro forte e doce, embriagava Bruna de lembranças, recordações boas, de momentos incríveis que passou ao lado de Daniel. Abraços, beijos, carinhos, conversas que ela não consegue esquecer. O jeito único de ele segurar sua mão, seus dedos se encaixavam perfeitamente. Ela não esquecia seu cheiro, sua voz, nada. Mas tudo isso agora havia acabado, tudo por uma crise de ciúmes dela. Esse ciúme doentio dela sempre estragava seus relacionamentos, mas nunca havia grande problema, pois ela não sentia nada forte por nenhum ex dela. Mas agora a questão era Daniel. Era outro mundo, um amor verdadeiro que acabou por causa dela, e ela não se perdoa por isso.

*****

Naquela noite, que passei em claro pensando no que fazer, em como agir, sabendo, de certa forma, o que era certo. Porém, o medo impedindo isso. Foi a noite mais longa, mais cansativa. Deitada na cama, só rolando, sem conseguir desviar meus pensamentos, sem conseguir me desligar do mundo, da minha mente, de você. A noite toda passou sem que eu conseguisse pregar os olhos. O dia amanhece. Eu me levanto e me arrumo para enfrentar a rotina, e mesmo sem dormir, pensando em tudo, mais uma vez não consegui chegar a nenhuma conclusão. Nenhuma decisão foi tomada. Nenhuma escolha foi feita. Uma noite passada em claro e em vão.

Stephanie Becker

NAVEGAR EM MIM - PAULA FERNANDES

sexta-feira, 6 de maio de 2011

MULHER



Quando Deus fez a mulher já estava em seu sexto dia de trabalho fazendo horas extras. Um anjo apareceu e lhe disse:

̶  Por que leva tanto tempo nisto? E o Senhor respondeu:

̶  Já viu a minha ficha de especificações para ela? Deve ser completamente lavável, mas sem ser de plástico, ter mais de 200 peças móveis e ser capaz de funcionar com uma dieta de qualquer coisa, até sobras, ter um colo que possa acomodar quatro crianças ao mesmo tempo, ter um beijo que possa curar desde um joelho arranhado até um coração partido e fará tudo isto somente com duas mãos.

̶  Somente duas mãos... Impossível! E este é somente o modelo básico? É muito trabalho  para um dia... Espere até amanhã para terminá-la.

 ̶  Isso não! Estou tão perto de terminar esta criação que é favorita de Meu próprio coração. Ela se cura sozinha quando está doente e pode trabalhar jornadas de 18 horas.

O anjo se aproximou mais e tocou a mulher.

̶  Mas o Senhor a fez tão suave...

̶  É suave, mas a fiz também forte. Você não tem ideia do que pode aguentar ou conseguir.

̶  Será capaz de pensar?

̶  Não somente será capaz de pensar, mas também que raciocinar e de negociar.
O anjo então notou algo e estendendo a mão tocou a bochecha da mulher.

̶ Senhor, parece que este modelo tem um vazamento... Eu lhe disse que estava colocando muita coisa nela.

̶  Isso não é nenhum vazamento, é uma lágrima.

̶  Para que serve a lágrima?

̶  As lágrimas são sua maneira de expressar seu destino, sua pena, seu desengano, seu amor, sua solidão, seu sofrimento, e seu orgulho. Isto impressionou muito ao anjo.

̶  O Senhor é um gênio, pensou em tudo! A mulher é verdadeiramente maravilhosa!

̶  Sim é! A mulher tem forças que maravilham aos homens. Aguentam dificuldades, levam grandes cargas, mas tem felicidade, amor e alegria. Sorriem quando querem gritar. Cantam quando querem chorar, choram quando estão felizes e riem quando estão nervosas. Lutam pelo que creem, enfrentam a injustiça. Não aceitam "não" como resposta quando elas creem que há uma solução melhor. Privam-se para que a sua família possa ter. Vão ao médico com uma amiga que tem medo de ir. Amam incondicionalmente. Choram quando seus filhos triunfam e se alegram quando seus amigos ganham prêmios. Ficam felizes quando ouvem sobre um nascimento ou um casamento. Seu coração se parte quando morre uma amiga. Sofrem com a perda de um ente querido, entretanto são fortes quando pensam que já não há mais forças. Sabem que um beijo e um abraço podem ajudar a curar um coração partido. Entretanto, há um defeito na mulher: ela se esquece do quanto vale.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A VALSA




             Leia escutando a música... É bom...

            Foi um dia muito engraçado. Nunca levava o violão para a aula, mas hoje resolveu levar. Por coincidência, era o dia em que uma pessoa importante visitaria o campus. Quem era? Não fazia ideia... Só ouvira falar. Na hora da chegada, resolveu ir e dar uma espiada no acontecia. Também nunca fora a algum evento desse tipo. É... pelo visto era o dia das mudanças.

            Lá chegando, percebeu que a movimentação não estava tão grande. A divulgação não fora boa (ou fora assim de propósito). Pensou que seria apenas uma pessoa, mas era uma mãe e seu filho. Pensou também que seriam pessoas chatas, cheias de peculiaridades. Mas, surpreendentemente, eram pessoas simples e muito agradáveis. Falavam de assuntos diversos, como dando palestra. O filho era mais como um acompanhante. A estela era a mãe.

            Quase pelo final, a mulher comentava de música e perguntou se ninguém tinha um violão para emprestar. Uns dois apareceram, mas o dela fora o escolhido. Quem recebeu foi o filho. Nossa, que olhos... Extremamente penetrantes… Foi um daqueles momentos em que os olhos se encontram e se reconhecem, como se há muito estivessem se procurando… Que sensação maravilhosa! A partir dali, qualquer momento era desculpa para se olharem e trocarem sorrisos. A mãe logo percebeu, mas apenas ela. Claro, mães conhecem seus filhos.

            Após a apresentação, todos se dispersaram, mas a moça ficou. Passou um bom tempo conversando com o filho e a mãe, ao passo que ela se encantava cada vez mais. Contudo, a hora de partir aproximava-se. A emoção era tanta, que se esqueceu de trocar telefones ou coisas parecidas. Despediram-se e cada um voltou para o seu mundo.

            Muito tempo passou e a moça nunca esquecera aquele rapaz que tanto a encantara. Estudou, trabalhou, dançou, se apaixonou… Mas nada nunca fora igual ao momento mágico que passara.

            Dois anos depois, ouviu dizer que aquele par voltaria à universidade. Esperou ansiosamente aquele momento. Uma coisa era certa: ele não recordaria dela. Como se lembraria de uma moça que conversara há tanto tempo. Com certeza já estaria casado, já que ser importante traz responsabilidades. Levou, novamente, seu violão. Nunca se sabe…

            Desta vez o lugar estava cheio. Muitos esperando para ver aquelas pessoas que tanto encantara a todos. E, por coincidência ou não, muitos traziam consigo seus violões. Isso fez com que a moça se sentisse ainda mais desesperançada.

            Como da outra vez, a mãe falou maravilhosamente bem, com encanto e graça. E como o esperado, o filho estava com ela, mais encantador ainda. A moça estava decidida: não apareceria. Ficaria recôndita, apenas o observando. Não correria o risco de tentar um contado mais direto e passar uma vergonha.

            A mãe pediu um violão, de novo. Mas agora choveu instrumentos. A moça deixara o seu no canto, ao alcance do filho. Este o pegara, mas percebeu que a pessoa que o entregara já havia se escondido. Isso o intrigou, pois reconhecera o violão e procurava sua dona, aquela que o encantara há dois anos. Entregou o violão à mãe e disse que era da moça.

            Esta, conforme planejara, escondera-se bem no cantinho do local, perto de uma árvore. Terminada as festividades, o moço saiu a sua procura. Achara-a. Foi mais um encontro divino. Não, ele não a esquecera. Pelo contrário, procurou-a todo este tempo, assim como ela o fizera. Tudo isso foi percebido naquele olhar.

            Uma valsa tocava ao longe. Ele a tomou nos braços e rodopiaram. Aquela dança os embalava fazendo com que tudo e todos ao redor sumissem. Existiam apenas os dois e nada mais. Beijaram-se. Um beijo esperado por dois anos, mas era também o reencontro de duas almas separadas por uma vida. A partir daquele momento, nunca mais se separariam, pois finalmente se reencontraram, para todo o sempre, pois este era o destino…

quinta-feira, 28 de abril de 2011

COMO DIZIA O POETA



Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão


(Vinícius de Morais e Toquinho)

domingo, 24 de abril de 2011

NESTA RUA


"Nesta rua, nesta rua, tem um bosque
Que se chama, que se chama, Solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei seu coração
É porque tu roubastes o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque eu te quero tanto bem
Se esta rua se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar."

domingo, 17 de abril de 2011

SEPARAÇÃO – VINÍCIUS DE MORAIS

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.

Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E, no entanto, ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

domingo, 10 de abril de 2011

O AMOR POR ENTRE O VERDE – VINÍCIUS DE MORAIS

Não é sem frequência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vêm namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido num blue jeans e um suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de- cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida.

Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos e ficam montados um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.

Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a prescrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.

- Que será – pergunto-me eu em vão – dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar desta com cabelos presos?

– E se prosseguirem se amando – pergunto-me novamente em vão – será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?

É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado… Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que deveria ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.

E é então que esqueço tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaríamos que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos, mirando muito além das estrelas.

quarta-feira, 30 de março de 2011

CLARICE LISPECTOR - PARTE 2



"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorve a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

quarta-feira, 9 de março de 2011

SOLIDÃO


“A solidão é o preço que temos de pagar por termos nascido neste período moderno, tão cheio de liberdade, de independência e do nosso 
próprio egoísmo.” (Soseki Natsume)


Solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa não por que simplesmente se isola, mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme.

A escola existencialista vê a solidão como essência do ser humano. Cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser em separado e, no final, morre sozinho. Aceitar o fato, lidar com isso e aprender como direcionar nossas próprias vidas de forma bela e satisfatória é a condição humana. Alguns filósofos, como Jean-Paul Sartre, acreditaram numa solidão epistêmica, onde a solidão é parte fundamental da condição humana por causa do paradoxo entre o desejo consciente do homem de encontrar um significado dentro do isolamento e do vazio do universo. Entretanto, alguns existencialistas pensam o oposto: os indivíduos precisariam se engajar ativamente uns aos outros e formar o universo na medida em que se comunicam e criam, e a solidão é meramente o sentimento de estar fora desse processo.

Sempre vivi muito bem com o isolamento, mas quando se passa por um momento com alguém e que se sente totalmente preenchida, a solidão passa a ser insuportável... Percebe-se que a solidão não tem mais graça, que se isolar não é mais divertido. O que se tinha para conhecer de si mesmo já se conhece, está na hora de partilhar com outros aqueles seus sentimentos, pensamentos, escolhas... Não concordo que temos que ser sozinhos - individuais sim, mas sozinhos não! Sinto falta desse alguém, falta das conversas, dos momentos... Falta daquilo que se foi e não se sabe se terá de volta...

segunda-feira, 7 de março de 2011

COISAS DE MENINA


Coisas de Menina
Luen e seus Neurônios

Me desculpe se sou as vezes um pouco sincera
Te digo o que eu sinto mas percebo que fiz besteira
Mas eu sei que aquele beijo foi verdadeiro
Foi tão bom aquele momento no banheiro

Coisas de amigas, os nossos brinquedos
Os meninos não sabem o que nós fazemos
Esse é o nosso segredo, pode confiar
Não precisa ter mais medo
Agora é só me amar, só me amar
Você pode confiar

Te quero de um jeito sincero sem perdas
Por mim eu não andaria nas regras
Mas se você ainda quer disfarçar
Te respeito e te espero o seu tempo chegar

domingo, 27 de fevereiro de 2011

DIANE BIRCH

Nascida em Michigan, Diane Birch passou toda sua infância em Zimbábue, África do Sul e Sydney, Austrália. Quando era adolescente, retornou aos Estados Unidos com a família e se instalou em Portland, Oregon.

Birch começou a estudar piano usando o Método Suzuki, aos sete anos de idade. Quando teve idade o suficiente, mudou-se para Los Angeles e fez alguns trabalhos como "pianista de contrato". Depois de ter sido descoberta no MySpace, Birch se mudou para Londres onde assinou um contrato de publicidade e escreveu a maior parte das músicas de seu álbum de estréia. Em 2007, ela se mudou para Nova York depois de assinar com Steve Greenberg, a S-Curve Records.

As múltiplas viagens, conjugadas com a vivência dos corais de igreja (seu pai é pastor), o estudo dos clássicos no piano e uma fase gótica exemplar (Joy Division, Cure, Sister of Mercy), ajudaram a formar a mente musical de Birch, que também estudou o jazz, a soul music e os Beatles. Assim nasceu 'Bible Belt', um disco irresistível, viciante. As músicas são gostosas e Birch passeia com tranquilidade pelo soul, jazz, folk e pop. O acabamento sonoro é impecável, sem agressões, sem exageros. Tudo com estilo e bom gosto.

Vejam com os próprios olhos...

Nothing But a Miracle



Don't Wait Up



Fools

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CONFISSÃO 3

Às vezes ficamos com um vazio... Bate aquele sentimento de que estamos sozinhos mesmo com tantas pessoas ao redor... O que falta? O que é preciso para preencher esse buraco que se formou em mim? São tantas perguntas que sabemos a resposta, mas temos medo de admitir... Talvez por causa das consequências que essas revelações podem trazem... Todos têm medo de revelar suas fraquezas, de mostrar qual o seu verdadeiro ponto fraco... Eu tenho o meu: amor...

Minha primeira paixão foi aos seis anos (sim, precoce)... Nunca esqueci o rosto daquele garoto que eu vi apenas uma vez na minha vida e que deveria ter o dobro da minha idade ou mais... Por toda minha vida sempre me apaixonei por alguém e na maioria das vezes não fui correspondida. Não sei se “escolhia” o cara errado, se não era pra ser ou simplesmente a culpa era dele e não minha... Já levei muito na cara por conta dessas paixões platônica! Mas já tive também rapazes que me amaram e eu simplesmente disse não, afinal, como a sabedoria popular já diz: a gente nunca ama quem nos ama...

Já encontrei um grande amor, que me correspondeu, mas apenas de alma... Sim, ele é o cara certo, mas no momento errado... Amor que não tem como explicar, pois nem todas as palavras do mundo conseguiria descrever a infinidade do que sentimos, pois é a forma mais pura de se amar outra pessoa... Aquele amor que o mais importante no mundo não é a sua felicidade, mas a dele... Aquele que tudo compartilha, até os sentimentos, mesmo que estejam longe... O maior e o melhor, sem comparação... “Se é tudo isso, por que não ficar junto?” Porque, infelizmente, a vida tem mistérios que não se consegue desvendar... É preciso mais de uma vida para descobrir essa verdade... Ele não é para ser meu e nem eu dele, não ainda!

Mas não é esse amor que me deixa com esse vazio, é outro... O outro que é aquele sem razão, desvairado e efêmero, que aparece em nossa vida apenas para bagunçar o que achava que estava arrumado... Aquele que você sabe que é o errado (mais uma vez) e mesmo assim você se entrega... Entrega-se de uma forma que nunca havia feito antes... Entrega-se como se fosse a última coisa que fizesse em sua vida... Estar ao lado dele é a coisa mais simples e bela que acontece... Com ele o mundo pára e nada mais tem sentido: só ele! O choque que percorre o corpo ao mínimo toque... O desejo estampado na cara e que leva a cometer loucuras em seu nome... A não resistência... A briga que dura até o momento que se encontra novamente... Aquela química que mesmo com muito tempo sem encontrar ressurge das cinzas e volta a atormentar... Se está longe quer estar perto, mesmo que sem fazer nada, pois mesmo no silêncio se entendem... Amor esse que sabe que irá terminar, por isso aproveita ao máximo para ter a certeza que se tirou o máximo de proveito...

Mas por que, mesmo sabendo disso, a falta enlouquece!? Por que não aceitar essa separação mesmo sabendo que um dia aconteceria?

 Porque o amor ainda está ali, presente... Porque, antes, não se tinha a coragem de assumir que ama, mas agora tem, apesar de todas as consequências que podem acontecer... Pode não ser o amor eterno, mas é amor, porque virou amor... A brincadeira se tornou séria, mesmo que só para uma das partes... Porque a falta já está insuportável, a ponto de não se pensar em mais nada, só na pessoa... Que só uma simples palavra já acalma... Porque já se está em crise de abstinência por conta daquela droga tão maravilhosa em que se viciou... Sim, esse é o tormento do momento: a falta... Essa maldita falta que eu sinto... 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

SURREALISMO


 “O sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?” (André Breton)

Nas duas primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade. O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente.

É importante salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da I Guerra Mundial e sobre a experiência acumulada de todos os movimentos. Entretanto, suas origens estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca do homem primitivo, da libertação do incosciente, da valorização do sonho. 

Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle.

A publicação do Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton em outubro de 1924, marcou historicamente o nascimento do movimento. Nele se propunha a restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para isso era preciso que o homem tivesse uma visão totalmente introspectiva de si mesmo e encontrasse esse ponto do espírito no qual a realidade interna e externa são percebidas totalmente isentas de contradições.

A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja, qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser humano: o subconsciente.

O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam, dessa forma, atingir outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais.

Em Salvados Dalí, o mais extravagante dos surrealistas, a influência de Freud é marcante. São temas recorrentes em sua obra: o sexo (e todas as suas atribuições: angústias, medos, frustações, traumas), a memória (sua permanência ou dissipação, representada por relógios que se diluem), o sono e o sonho.

SURREALISMO NA LITERATURA

No Brasil, as ideias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no Brasil. Podemos observar características surrealistas nas pinturas, Nu e Abaporu de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral, respectivamente.

Na literatura, o livro MACUNAÍMA, de Mário de Andrade, talvez seja o melhor exemplo de influência do surrealismo na literatura brasileira. Escrito em apenas seis dias, com uma narrativa mágica, quase automática, reelabora temas de mitologia indígena e visões folclóricas. É uma das obras modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse romance encontram-se dadaísmo, futurismo, expressionismo e surrealismo aplicados às raízes da cultura brasileira. Leia um trecho:

“Nesse momento um mulato da maior mulataria trepou numa estátua e principiou um discurso entusiasmado explicando pra Macunaíma o que era o dia do Cruzeiro. No céu escampado da noite não tinha uma nuvem nem Capei. A gente enxergava os conhecidos, os pais-das-árvores os pais-das-aves os pais-das-caças e os parentes manos pais mães tias cunhadas cunhãs cunhatãs, todas essas estrelas piscapiscando bem felizes nessa terra sem mal, adonde havia muita saúde e pouca saúva, o firmamento lá.”

LEITURA

Botafogo

Desfilam algas sereias peixes e galeras
E legiões de homens desde a pré-história
Diante do Pão de Açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente
A filha do português debruçou-se à janela
Os anúncios luminosos lêem seu busto
A enseada encerrou-se num arranha-céu.
                                     
                                           (Murilo Mendes)

CINEMA

Um Cão Andaluz (1928). Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Salvador Dalí. Com Luis Buñuel, Salvador Dalí e Jeanne Rucas.

Clássico do surrealismo cinematográfico, cuja origem foi um sonho de Dalí, o excêntrico pintor espanhol. O filme é impregnado de fortes imagens oníricas, ligadas sem nenhuma lógica aparente.

TEATRO

O dramaturgo francês Antonin Artaud é o maior representante do surrealismo no teatro, através de seu teatro da crueldade. Artaud buscava, através de suas peças teatrais, livrar o espectador das regras impostas pela civilização e assim despertar o inconsciente da plateia. Um das técnicas usadas pelo dramaturgo foi unir palco e plateia, durante a realização das peças. No livro O Teatro e seu duplo, Arnaud demonstra sua teoria. Sua obra mais conhecida é Os Cenci, de 1935, onde ele conta a vida de uma família italiana durante a fase do Renascimento. 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

CONFISSÃO 2

Para que sentir a falta, se você pode ter sempre ao seu lado?! Basta deixar o orgulho de lado e se entregar a essa paixão! Não deixe a chance passar... Não se permita entregar-se ao arrependimento de algo que poderia ter feito, mas não fez. Viva a vida e deixe que o resto se encaixe. Não se imponha a coisas que não quer... não vale a pena...