domingo, 7 de agosto de 2022

ROMEU E JULIETA

[...]

ROMEU (a Julieta) Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.

JULIETA Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.

ROMEU Os santos e os devotos não têm boca?

JULIETA Sim, peregrino, só para orações.

ROMEU Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.

JULIETA Sem se mexer, o santo exalça o voto.

ROMEU Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.

(Beija-a.)

JULIETA Que passaram, assim, para meus lábios.

ROMEU Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.

JULIETA Beijais tal qual os sábios.

[...]

(Ato I, Cena V)