terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

SURREALISMO


 “O sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?” (André Breton)

Nas duas primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade. O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente.

É importante salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da I Guerra Mundial e sobre a experiência acumulada de todos os movimentos. Entretanto, suas origens estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca do homem primitivo, da libertação do incosciente, da valorização do sonho. 

Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle.

A publicação do Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton em outubro de 1924, marcou historicamente o nascimento do movimento. Nele se propunha a restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para isso era preciso que o homem tivesse uma visão totalmente introspectiva de si mesmo e encontrasse esse ponto do espírito no qual a realidade interna e externa são percebidas totalmente isentas de contradições.

A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja, qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser humano: o subconsciente.

O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam, dessa forma, atingir outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais.

Em Salvados Dalí, o mais extravagante dos surrealistas, a influência de Freud é marcante. São temas recorrentes em sua obra: o sexo (e todas as suas atribuições: angústias, medos, frustações, traumas), a memória (sua permanência ou dissipação, representada por relógios que se diluem), o sono e o sonho.

SURREALISMO NA LITERATURA

No Brasil, as ideias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no Brasil. Podemos observar características surrealistas nas pinturas, Nu e Abaporu de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral, respectivamente.

Na literatura, o livro MACUNAÍMA, de Mário de Andrade, talvez seja o melhor exemplo de influência do surrealismo na literatura brasileira. Escrito em apenas seis dias, com uma narrativa mágica, quase automática, reelabora temas de mitologia indígena e visões folclóricas. É uma das obras modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse romance encontram-se dadaísmo, futurismo, expressionismo e surrealismo aplicados às raízes da cultura brasileira. Leia um trecho:

“Nesse momento um mulato da maior mulataria trepou numa estátua e principiou um discurso entusiasmado explicando pra Macunaíma o que era o dia do Cruzeiro. No céu escampado da noite não tinha uma nuvem nem Capei. A gente enxergava os conhecidos, os pais-das-árvores os pais-das-aves os pais-das-caças e os parentes manos pais mães tias cunhadas cunhãs cunhatãs, todas essas estrelas piscapiscando bem felizes nessa terra sem mal, adonde havia muita saúde e pouca saúva, o firmamento lá.”

LEITURA

Botafogo

Desfilam algas sereias peixes e galeras
E legiões de homens desde a pré-história
Diante do Pão de Açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente
A filha do português debruçou-se à janela
Os anúncios luminosos lêem seu busto
A enseada encerrou-se num arranha-céu.
                                     
                                           (Murilo Mendes)

CINEMA

Um Cão Andaluz (1928). Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Salvador Dalí. Com Luis Buñuel, Salvador Dalí e Jeanne Rucas.

Clássico do surrealismo cinematográfico, cuja origem foi um sonho de Dalí, o excêntrico pintor espanhol. O filme é impregnado de fortes imagens oníricas, ligadas sem nenhuma lógica aparente.

TEATRO

O dramaturgo francês Antonin Artaud é o maior representante do surrealismo no teatro, através de seu teatro da crueldade. Artaud buscava, através de suas peças teatrais, livrar o espectador das regras impostas pela civilização e assim despertar o inconsciente da plateia. Um das técnicas usadas pelo dramaturgo foi unir palco e plateia, durante a realização das peças. No livro O Teatro e seu duplo, Arnaud demonstra sua teoria. Sua obra mais conhecida é Os Cenci, de 1935, onde ele conta a vida de uma família italiana durante a fase do Renascimento. 

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