[...]
ROMEU ⎯ (a Julieta) ⎯ Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA ⎯ Ofendeis vossa
mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega
o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.
ROMEU ⎯ Os santos e os
devotos não têm boca?
JULIETA ⎯ Sim,
peregrino, só para orações.
ROMEU ⎯ Deixai, então,
ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
JULIETA ⎯ Sem se mexer,
o santo exalça o voto.
ROMEU ⎯ Então fica
quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.
(Beija-a.)
JULIETA ⎯ Que passaram,
assim, para meus lábios.
ROMEU ⎯ Pecados meus?
Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.
JULIETA ⎯ Beijais tal
qual os sábios.
[...]
(Ato I, Cena V)